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domingo, 4 de março de 2007

Vieste para ser o meu livro...



"É um dia triste, o de hoje. Não sei bem explicar ou definir esta sensção de término, de chegada ao fim. Detesto despedidas. E despedir-me, mesmo do ano que seja, é-me doloroso. (...)
Estamos a poucas horas (a palavra tem o peso do dramatismo que a palavra "dia" tem) de lhe dizer adeus, de nos despedirmos dos 365 que passaram. Sei lá... é a demarcação clara e indelével que existe passado e que o passado fica para trás e que o que se segue é um chorrilho de outros dias, indefinidos, incertos, vazios."
Rute

"O bom faz-se esperar ou este mundo é tão bruto e tão alucinado que pinta os lábios e os dentes só para se divertir vendo-me agastado pelo teu silêncio?"
João

"Os amores vão e vêm, vão e vêm, vão e vêm. Os estados de felicidade também. Aprendi a suportar os fins como outros inícios, como princípios de outra dimensão. É o eterno retorno do fim. E a finalidade do fim é começar de novo."
Rute

"(...) e dizer-te sem rodeios que preferia passar um minuto a abraçar-te, a ti, a tudo o que representas para mim, que passar a vida a não saber o que fazer com outras felicidades que me rodeiam."
João

"Receio ter feito de ti um hábito mais do que uma necessidade, uma rotina mais que uma dependência."
Rute

"Estás-me no sangue, dás-me poder, tornas-me indomável. Pareço o país. Como podes então questionar de quem era aquele abraço que sentiste? Se não há momento que não me sinta junto de ti, tanto que nem dou por mim? O sentimento de plenitude é tanto que não cabe no peito, e foge para ti, estejas onde estiveres, sem se incomodar com as horas, porque essa matéria só figura no domínio da nossa imaginação."
João

"Antes que alguém me pudesse processar, telefonei para um amigo bem informado sobre questões jurídicas a perguntar se está garantido na constituição o direito a adorar. Respondeu-me, em tom de troça, que, para cá da linha do Equador, jamais alguém se preocupou com isso."
João

"Apetece-me mandar-te à merda, para a puta que te pariu, para o diabo a quatro. Não o faço porque só me resta um polimento que acabei de encontrar, escondido, no canto esquerdo do mindinho do meu pé direito."
Rute

"Em qualquer país, boca ou idioma, o teu último parágrafo, para além de muito parecido com debates políticos nas televisões, só teria uma tradução: - Odeio-te, meu amor!"
João

"Com Torga te respondo «Perde-se a vida a desejá-la tanto. Só soubemos sofrer, enquanto o nosso amor. Durou. Mas o tempo passou, há calmaria... Não perturbes a paz que me foi dada. Ouvir de novo a tua voz seria matar a sede com água salgada.» A minha vitória será um dia mandar-te Eugénio, para dizer-te que «Já gastámos as palavras. Quando agora digo: meu amor, já não se passa absolutamente nada.» Por enquanto, não consigo..."
Rute

"Eu quero-te e quero-te e quero-te. Mas não quero que sabotes a minha paixão, não me apetece que me encostes a um percurso, a uma barreira inultrapassável. Como te disse já não tenho forças para algo que se me apresenta mais sonhado que concretizado."
João

"Fugi sempre, é bem verdade, e a tua fuga assustou-me. Infernizou-me a vida e a serenidade do previsível. E as minhas fugas foram as tuas e não soube lidar com quem, como eu, fugia. Foge para aqui. Não te deixo na soleira, nem no hall e não te prendo no elevador. Prometo. Abro-te a porta, os braços e o corpo."
Rute


- "Vieste para ser o meu livro", de Rita Marrafa de Carvalho e Eduardo Águaboa


Um dia vou "esquecer-me" do meu endereço de e-mail numa esplanada qualquer...